RELATÓRIO-SÍNTESE ASSEMBLEIA GERAL

Frente Ampliada
4 min readDec 22, 2020

Dias 12 e 15 de Dezembro de 2020

Este Relatório-Síntese da Assembleia Geral da Frente da Saúde Mental, da Reforma Psiquiátrica e da Luta Antimanicomial (FASM), realizada no dias 12 e 15 de dezembro de 2020, em modo virtual, tem por finalidade apresentar o conjunto de propostas aprovadas na Assembleia Geral e indicar os principais encaminhamentos acordados até o presente momento.

Para abrir este Relatório-Síntese, decidimos trazer aqui três fragmentos de falas muito impactantes que foram feitas na Assembleia Geral no dia 12/12/20.

São intervenções de fala de duas adolescentes, que estão vinculadas ao Centro de Atenção Psicossocial da Infância e Juventude (CAPSIJ) em São Paulo, e de Patrícia Ruth, sobrevivente do período manicomial da Colônia Juliano Moreira no Rio de Janeiro.

“(…) Sempre tive ansiedade também. ( O CAPS) ajudou com minha depressão. O CAPS foi muito importante, porque se não fosse ele não sei o que seria de mim. A escola indicou o CAPS em Jabaquara e foi muito importante ter conhecido o CAPS e tantos profissionais que me acolheram, que me ajudaram (…)”.

D. C., 16 anos

“(…) Saber que tem tantas pessoas maravilhosas que lutam pelos direitos humanos. É triste saber que tem gente que nega o cuidado em liberdade, principalmente para crianças. Fui acolhida e conheci pessoas maravilhosas… As pessoas conversavam comigo. O CAPS foi muito importante na minha vida, a minha relação com minha mãe melhorou bastante e meu pai também não entendia o que era ansiedade, achava que era frescura.”

J. M., 17 anos

“(…) Eu sou a Patrícia Ruth, estive internada na Colônia desde 1970. Então, eu vou contar o que aconteceu comigo na internação. Eu, quando estava no Pavilhão dos Adolescentes, no Pavilhão Faixa Azul, então, eu nunca fui bem tratada, sabe… era um horror, lá, onde eu tava… eu só vivia amarrada na cama, remédio bravo, ao invés de eu tomar 1, 2, 3 comprimidos, eles me davam muito, pra me dopar. Então, o que eu fazia: fugia. Nunca dava certo. Quando eu completei a maioridade, eu fui para o Franco da Rocha. Lá foi o pior. Pior do que presídio. Eu estive presa no quarto forte…Então, a enfermeira, que chama-se Eloise, que me tirou do quarto forte. Mas não adiantou nada, porque eu não podia ficar no pátio, porque eu era agressiva, entendeu?… Eu só vivia presa num cubículo… três meses, que eu ficava. Comida, pior do que de preso, pior do que de presídio. Eles botavam debaixo da porta. Água, na caneca de alumínio, davam pra gente. A minha história, é uma história muito triste, menina. Se eu tô fora da internação… eu achei o meu caminho… o meu caminho, foi a liberdade… coisa, que nunca ninguém sabe pelo que passei… outros, passaram também… mas eu sobrevivi.. por isso que eu falo: eu sou uma das sobreviventes…

Olha, se eu tenho o que eu tenho agora… pra mim, é uma coisa valiosa, porque eu não tinha nada… Ninguém me enxergava como gente, não, entendeu?… Pras pessoas, eu era bicho, eu era louca, entendeu?… Mas, eu dei a volta por cima. Demorou, sim, mas eu dei a volta por cima.. entendeu?…”

Patrícia Ruth, 68 anos

Há um intervalo de tempo de 50 anos entre essas duas experiências radicalmente distintas de relatos vividos na adolescência em situação de sofrimento psíquico. Uma história passada no manicômio, outra na atenção psicossocial defendida pela Reforma Psiquiátrica e pela Luta Antimanicomial.

Neste meio século que separa essas duas narrativas estão a volta da democracia ao país e o movimento de trabalhadoras e trabalhadores de saúde mental na perspectiva de colocar fim aos manicômios. Não é possível conviver com a ideia de retrocesso na política de saúde mental!

A Frente Ampliada, fundada em 4 de dezembro de 2020, se constituiu para fazer o enfrentamento à tentativa do governo federal em fazer o revogaço de todo arcabouço legal da atual Política Nacional de Saúde Mental e reinstalar o modelo biomédico e estigmatizante, produzido pelos hospitais psiquiátricos já superado em todos os países desenvolvidos do mundo. Para que nunca mais relatos semelhantes os de Patrícia Ruth se reproduzam no pais!

Em sua Assembleia Geral da Frente Ampliada, foi afirmada de forma categórica o desejo da Saúde Mental construir um novo pacto social junto com os Movimentos Sociais Progressistas Democráticos. Esse posicionamento se reflete também na proposição de novos Grupos de Trabalho (GTs) e pautas comuns que possam garantir essa aproximação com os Movimentos Sociais, enfatizando a importância dos temas do racismo estrutural, das questões indígenas, do movimento quilombola, dos movimentos LGBTQI+, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), entre outros.

A FASM atualmente reúne mais de 3.400 participantes subdivididos em 6 Grupos de Trabalho: Comunicação, Articulações, Articulações/Serviços, Ocupação, Ciência, Ética e Direitos Humanos e Conferência Popular de Saúde Mental. As propostas foram apresentadas por estes GTs, pelo Grupo Organizador, formado por Administradores, Moderadores, Relatores provenientes dos GTs e pelos participantes da Assembleia Geral, diretamente ou via chat/youtube. Todas as propostas foram aprovadas e acolhidas, passando a se constituir em uma Agenda de Trabalho da FASM neste próximo ano de 2021.

Baixe aqui o documento completo!

Confira aqui a programação da assembleia!

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